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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mais uma crônica: "O All Star vermelho e branco"


Mais uma sexta, fim do expediente. Mas não quero voltar pra casa. Quero algo diferente. Alguns amigos marcaram um lanche no shopping, vou ao encontro deles.
 Ao entrar no shopping, sou bombardeado por lojas oferecendo coisas que nunca imaginei, e que provavelmente nunca use.  Caminho até a praça de alimentação. Lá estão eles, sentados, rindo e falando.
 Eles me recebem com muita atenção. Comprimento todos. O assunto muda. Falamos de novidades. Contamos piadas. A hora passa.
 Olho pro relógio, já é tarde. Preciso ir. Digo "tchau" e vou embora. Ainda não tenho carro, preciso pegar o ônibus - que geralmente é lotado - mas não há problema, amanhã é sábado, posso dormir até tarde. Entro no ônibus, que está anormalmente lotado hoje. Vou em pé. Não tem problema, fiquei horas sentado no shopping.
Então eu a vejo. Olho para o chão,  espero que ela não tenha me percebido. Subo o olhar lentamente.       Começo pelos pés, ela calça um tênis all star, é vermelho e branco. A calça é Jeans, estilo Cigarrete. e uma blusa cacharrel azul. Cabelos loiros e curtos. Olhos claros, provavelmente verdes.
  Por alguns instantes eu apenas a observo, porém quando ela se vira para mim, disfarço, finjo olhar outra coisa. Minha mente trapalha, sinto me queimar. Vergonha? Talvez ou quem sabe uma paixão? É possível. Então ela sorri. Parece que vejo um mundo novo, recém descoberto, assim como Colombo deve ter se sentido ao avistar pela primeira vez o "Novo Mundo ". Meu rosto arde, o vento que  entra pela janela não me refresca.  Ela percebeu que eu a observo. Ela me encara, mas sou tímido, tento não olhar.
  Ela está escutando música com seu fone de ouvido e mexe seus lábios, parece o movimento dos lábios das Nereidas da Odisséia de Homero e como se cantasse em infra-som, conseguisse  hipnotizar me, como os encantadores de serpente indianos,uma música que eu adoraria saber qual é.
 A viagem no ônibus está acabando, tenho vontade de chegar perto, perguntar seu nome. Mas estou imóvel, minha tímidez me condena. Irei descer. Olho mais uma vez para seu rosto e tento memorizá-lo.  Cada detalhe, seu queixo fino e lábios carnudos, cada piscada sua, fica em minha  memória. Ela me retribui com um sorriso. E como se fotografasse em minha mente, nunca mais esquecerei esse sorriso. Desço e vejo o ônibus partir.
 Talvez eu nunca mais a veja. Aqueles minutos dentro do ônibus foram inesquecíveis, olhar para ela, tentar imaginar sua voz, seu nome ou qualquer coisa que possa me ligar a ela.  Tudo isso fez valer a semana. Talvez seja só ilusão ou um amor platônico mas, desejo revê-la. 
  Mais tarde, em casa, vendo o telejornal, me espanto, minhas pernas tremem. Meu coração paralisa . Como se uma pedra de gelo percorresse toda minhas costas. Vejo a noticia. Um ônibus bateu contra um caminhão, e apenas uma jovem morreu. Uma garota loira, cacharrel azul  e all star vermelho e branco.

W. Schefer

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